terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sabe o que é Minimalismo?


Minimalismo

Apenas com o essencial
           Para os adeptos do minimalismo, o segredo de uma vida tranquila está em abrir mão do que é supérfluo e investir em objetos e prazeres realmente fundamentais.

>> Max Miliano Melo

Como seria sua vida se seus pertences fossem limitados a 100 itens? Mais Feliz? Mais tristes? Pois essa é a proposta do movimento minimalista: renegar o consumismo e viver apenas com o que há de mais importante para, assim, encontrar mais equilíbrio e felicidade. Achou a proposta muito radical? Sem problemas. Você ainda pode ser adepto do movimento. Uma corrente mais light dessa filosofia de vida busca manter a harmonia entre o que é essencial e o que é supérfluo, sem desvalorizar alguns prazeres da vida moderna, a diversão e o lazer.

Embora não tenha uma liderança ou um organização formal, o minimalismo está ligado a outros movimentos, como o slow food e o slow travel, que buscam o retorno à vida mais equilibrada, perdida com a correria do mundo moderno. Para essa turma, selecionar com cuidado os objetos a serem comprados, os locais aonde ir e as atividades do dia traz mais felicidade e tira um grande “peso” dos ombros, como conta a advogada Lu Monte, 32 anos, que narra seu processo de adaptação ao minimalismo no blog Dia de Folga(http://diadefolga.com).
“Tudo começou quando dei uma olhada no meu armário e percebi que tinah mais roupas do que dava conta de usar. Acabavam ficando amontoadas, e eu usava sempre as mesmas poucas peças”, conta a brasiliense, que encontrou muito mais do que organização depois de repensar o que mantinha no armário. “Percebi que ficou bem mais tranquilo e prazeroso escolher o que vestir e variar as combinações. Como a redução funcionou bem, resolvi aplica-la a outras coisas acumuladas pela casa. Quanto mais ‘destralho’ na casa, mais leve fica o meu dia a dia, e melhor me sinto.”

O “destralho” a que ela se refere é um processo de decisão que todo minimalista precisa tomar: definir o que é realmente importante e aquilo que é “tralha” e, logo, deve ser passado adiante. O desapego, nessa hora, é essencial. Vão embora a revista velha que só está guardada por ter uma foto interessante, os sapatos entulhados no armário ou as panelas para as quais a pessoa nunca encontrou serventia. Ao mesmo tempo, as lembranças especiais, o casaco preferido e o livro lido e relido com frequência passam a ocupar um espaço ainda mais especial na vida dos minimalistas.

Mandamentos da simplicidade
 (Confira algumas dicas para adotar a postura minimalista)
- Dê adeus ao supérfluo
                  >> abra mão do que é desnecessário, pouco utilizado ou não tem valor sentimental. Viva apenas com o que lhe for útil.
- Opte pelo minimalismo
                   >> decore sua casa de forma mais simples, frequente lugares semelhantes e incentive seus amigos a fazer o mesmo. Pode ser uma forma de manter o estilo de vida mesmo fora de casa.
- Invista em experiências
                   >> Em vez de comprar, gaste seu dinheiro com cursos, viagens e novas experiências.
- Repense seus valores
                   >> Valorize coisas simples e leves, como passear no parque, em vez de ir ao shopping, e jantar com os amigos em casa, e não em um restaurante.
- Utilize melhor o seu tempo
                   >> No dia a dia, é muito comum consumir, comprar ou ir a lugares sem pensar antes. Organize melhor o seu tempo de modo que ele renda mais.


Lista restrita

Depois de deixar de lado todas as suas tralhas, Lu está agora na segunda parte de seu projeto. Durante um ano, não sucumbirá à vontade de comprar uma série de produtos. A lista do que não deve ser adquirido em 2012 inclui roupas, sapatos, acessórios, cosméticos, livros, CD’s e DVD’s, além de eletrônicos e revistas. Estão liberados apenas itens como comida, material de limpeza e remédios, e a reposição de produtos que por ventura estraguem. Ela se permitirá também atividades de lazer, como ir ao teatro. “Estou fazendo essa experiência para ser mais feliz, não o contrário”, escreveu ao lado da lista em seu blog.

Se para a advogada o minimalismo está sendo iniciado agora, para a arquiteta Karla Madrilis, 28 anos, o processo vem desde criança, por estímulo dos pais, apesar de ter ganhado mais força quando ela entrou na universidade e foi morar em Goiás. “Com a mudança para outro estado e sendo universitária, não tinha condições de montar uma casa com muitas peças, então notei que estava muito satisfeita com as que tinha”, relembra. “ O fato  de ter orçamento apertado me conduzia a comprar apenas peças de qualidade que pudessem ser levadas comigo quando voltasse para Brasília. Isso me fez adquirir o hábito de comprar com mais consciência, e não apenas pelo fato de estar barato”, explica.

A preferência por peças de mais qualidade, mesmo que em um primeiro momento não seja a escolha mais barata, demonstra outro mandamento importante do minimalismo: observar sempre a relação custo-benefício. Muitas vezes, peças que são um pouco mais caras podem se mostrar muito mais duráveis, o que acaba representando uma economia. A postura também é ecologicamente correta, pois, em geral, gera menos resíduo. Isso vale para o copo de vidro no lugar dos de plástico, o sapato com acabamento melhor ou o sofá mais resistente. “Não compro peças para serem substituídas posteriormente. Quando você compra coisas temporárias, está fazendo dois gastos, pelo provisório e pelo  definitivo. E mais uma vez, acumulando coisas”, ensina Karla.
Persistência
                Embora quem opte pela vida mais simples ressalte que o desapego retira um peso gigante das costas, nem sempre é seguir por esse caminho. Alguns hábitos são tão arraigados que precisam de paciência e persistência para serem deixados de lado. “Na semana passada, estava no supermercado e havia um conjunto de petisqueiras de cerâmica baratinho. Foi difícil resistir. Então já percebi que não comprar pequenos mimos para a casa por um ano será um grande desafio, o que não tinha previsto”, conta a advogada Lu Monte.

                Também adepta da busca por uma vida menos consumista, a servidora pública Vanessa Cordeiro, 31, lembra que, nesse sistema, sofrer por não consumir é tão ruim quanto o próprio consumismo. “A ideia do consumo racional está longe de ser um sofrimento. É percepção das suas reais necessidades e preferências, ainda que essa necessidade leve a um suposto excesso”, afirma. Para ela, é preciso separar o que está ligado à real felicidade daquilo que se relaciona à simples satisfação social de posse. “As pessoas tentam achar a felicidade no consumismo. Minha impressão é que elas buscam sempre o ter, nunca o viver”, avalia.

                Na visão dela, consumir não deve se tornar algo proibido. O caminho deveria ser o de investir naquilo que traz prazer duradouro. “Prefiro mil vezes provar novas cervejas ou viver algo diferente, como um esporte novo, do que ter mais um sapato ou vestido que servirá para exatamente a mesma coisa de todos os outros. Adoro experiências, e é isso que me alimenta. Se compro roupas ou sapatos novos, outro da mesma categoria sai do armário. É incrível como sempre tem algo para ser retirado de lá!”, conta Vanessa, que prefere investir em situações diferentes e que tragam coisas novas.

                “Eu me sinto muito feliz em lembrar de coisas bacanas. Amo comer bem, experimentar sabores, provar bebidas, conhecer lugares, pessoas, viajar, passear. Ainda assim, avalio muita as opções e estou sempre em busca do melhor custo-benefício”, completa a jovem, que também mantém tudo registrado em seu blog (www.blogdenosdois.com).


Extraído do Jornal Correio Braziliense
Saber Viver

Correio Braziliense – Brasília, terça-feira, 17 de janeiro de 2012 


Edito: Ana Paula Macedo


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